12 abril 2007

O primeiro Voo



Quando recebemos o nosso brevet, levarmos a passear um familiar ou um amigo torna-se a etapa seguinte. De facto este nosso hobbie permite-nos oferecer uma experiência rara e até de certa forma um privilégio de poucos. Podermos oferecer a outros uma experiência de voo, é bem vistas as coisas, uma opção apenas disponivél desde há muito poucas gerações. Não existe nada mais gratificante que podermos proporcionar a oportunidade de voar a pessoas que nunca voaram e que provavelmente são na sua família desde “Adão e Eva” as primeiras a o fazerem.
De qualquer modo e porque certamente se pretende que essa seja uma experiencia gratificante quer para o passageiro, quer para o piloto, deixo aqui algumas noções que o podem ajudar para esse momento:

- Deixe que seja o seu amigo ou familiar a dizer, “Eu quero voar !”. Nunca force, nem convença ninguém a voar.

- Evite passeios longos. Um passeio de 10 a 15 minutos é o ideal, não opte por pernas superiores a 30 minutos.

- Escolha um dia agradável para voar. Com pouca turbulência e boa visibilidade. Lembre-se que para si podem ser apenas pequenos “buracos na estrada”, mas para o seu passageiro será certamente a maior turbulência que já alguma vez sentiu.

- Tenha já preparado um pequeno percurso, com alguns pontos de interesse já conhecidos. Se optar por um passeio um pouco mais longo, certifique-se que tem vários aeródromos alternativos pelo caminho. Pode ter que vir a os utilizar.

- Tenha sempre à mão do seu passageiro, alguns sacos para o enjoo, mas não precisa de lhe dizer que os tem.

- Leve o seu passageiro a dar uma volta pelo avião, explique-lhe o papel de cada superfície durante o voo, mas certifique-se que faz a inspecção sozinho e concentrado.

- Já dentro do cockpit mostre ao seu passageiro todos os instrumentos e as suas funções. Explique-lhe como vai pilotar o avião, as várias fazes do voo, as comunicações e as interacções com os outros aviões, isto colocará o seu passageiro mais descontraído para qualquer acção que você venha a efectuar.

- Explique que vai falar com outros aviões, ou mesmo falar sozinho para quem eventualmente o ouvir e que as comunicações de rádio são mais importantes que as de cockpit para que o seu passageiro não fique ofendido se o tiver de mandar calar.

- Comece por efectuar um circuito ao aeródromo de onde descolou, se o seu passageiro se sentir confortável poderá então prosseguir o passeio.

- Efectue um voo calmo e sereno, com voltas suaves e pouco acentuadas. Pretende-se que este seja o primeiro voo de muitos.

- Não efectue manobras de treino ou de “exibição”, garanto que o seu passageiro sabe que você sabe voar, de outro modo, não estaria ai ao seu lado. O seu passageiro poderá ser um viciado em adrenalina, mas você, se for um piloto consciente não o deverá ser.

- Explique o que é um borrego, que se trata de uma operação normal e que se o entender, poderá ter de o fazer. Deste modo o seu passageiro não ficará sobressaltado se o vir a abortar a aterragem.

- Lembre-se que para o seu passageiro a aterragem é o ponto mais stressante. Assegure-se que lhe explica o processo. Concentre-se e tente efectuar aquela aterragem !


Lembre-se:

• Um passageiro é um factor de desconcentração. Assegure-se que conhece e se sente confiante com os procedimentos do avião e do voo antes de levar passageiros.

• Certifique-se que as suas qualificações permitem o voo de passageiros e mesmo que estas o permitam, assegure-se pessoalmente que se sente já apto para os efectuar. Não é obrigatório que tenha de levar um passageiro no dia ou na hora em que teve a qualificação para passageiros. Não é a licença que faz o piloto, mas sim o piloto que faz a licença.

• Tenha os seguros em dia, o Murphy não dorme.

• Você é o comandante. Se entender que o dia, o avião ou você não estão em condições ideais para executar o voo, não voe. O seu passageiro irá certamente entender isso. Se não entender, então, mesmo assim não voe.


Luis Malheiro


(Este artigo foi publicado na revista Voa da APAU)